Sangrar no início da gravidez é uma das experiências mais assustadoras para quem está grávida. A sensação de que algo pode dar errado é imediata. Esse quadro é chamado de ameaça de aborto e acontece em até 1 a cada 4 gestações clínicas.
O que a maioria das pessoas quer saber nesse momento é: tem algo que eu posso fazer para evitar a perda? Por muitos anos, acreditou-se que a progesterona poderia ajudar. Afinal, esse hormônio é essencial para a gravidez: prepara o útero para receber o embrião e ajuda a manter a gestação nas primeiras semanas.
A pergunta é: tomar mais progesterona, em forma de comprimido ou cápsula vaginal, realmente aumenta a chance de o bebê nascer saudável?

O que foi o STOP trial
Para responder a essa dúvida, cientistas australianos fizeram um estudo grande e bem feito, chamado STOP trial. Esse tipo de pesquisa é considerado o mais confiável porque compara, de forma justa, quem toma o remédio e quem não toma.
Quem participou: 278 mulheres grávidas, com menos de 10 semanas, que estavam sangrando, mas com embrião vivo visto no ultrassom.
O que foi testado: metade tomou progesterona vaginal (400 mg à noite), a outra metade tomou placebo.
O que é placebo? É uma cápsula ou comprimido que parece exatamente igual ao remédio de verdade, mas não tem substância ativa. Ele serve para comparar os resultados sem que a paciente ou o médico saibam quem está recebendo o tratamento real. Assim, evita-se que expectativas ou crenças influenciem no resultado.
Até quando: até completar 12 semanas de gestação.
O que foi medido: a quantidade de mulheres que conseguiram levar a gravidez até o nascimento de um bebê vivo.
Esse tipo de estudo é chamado de ensaio clínico randomizado duplo-cego: nem médicos nem pacientes sabiam quem estava tomando progesterona e quem estava tomando placebo, garantindo uma comparação justa.
O que eles descobriram
Nasceram bebês em 82% das mulheres que tomaram progesterona.
Nasceram bebês em 84% das mulheres que tomaram placebo.
Ou seja: as taxas foram praticamente iguais. O uso de progesterona não fez diferença real.
Mesmo quando os cientistas olharam especificamente para mulheres que já tinham perdido gestações anteriores, o resultado foi o mesmo: não houve benefício.
Também não houve diferenças importantes em relação a parto prematuro, peso dos bebês ou complicações maternas.
O que isso significa na prática
A progesterona não ajuda em ameaça de aborto.
O STOP trial mostrou com clareza que, quando a gravidez já tem embrião com batimento cardíaco, o uso de progesterona não aumenta a chance de bebê em casa.
Sangrar não significa que você vai perder o bebê.
Esse é um ponto muito importante: a maioria das gestações em que se vê batimento cardíaco segue evoluindo bem, mesmo sem tratamento.
Não é culpa sua.
Muitas mulheres, ao perderem uma gestação, carregam a culpa e pensam que poderiam ter feito algo diferente. Mas a ciência mostra que, na maior parte das vezes, a causa da perda está ligada a alterações cromossômicas do embrião — algo que ninguém tem como evitar.
Por que ainda se fala em usar progesterona?
A progesterona continua sendo estudada em outros contextos, como em mulheres com abortamentos de repetição (quando já perderam 3 ou mais gestações). Nesses casos, alguns estudos sugerem um possível benefício, mas os resultados ainda não são totalmente conclusivos.
O que o STOP trial deixa muito claro é:
Na ameaça de aborto isolada, com sangramento e embrião vivo, a progesterona não traz benefício.
O que fazer se você está sangrando na gravidez
Procure atendimento médico para confirmar se há batimento cardíaco embrionário.
Muitas vezes, o médico pode recomendar apenas repouso relativo e acompanhamento.
Em alguns casos, pode ser preciso avaliar a presença de hematomas no útero ou descartar outras causas.
O mais importante: manter o seguimento com ultrassons e consultas para acompanhar a evolução.
Mensagem final
Passar por um sangramento na gravidez é angustiante. Mas os estudos mais sérios mostram que, quando há batimento cardíaco, a maior parte das gestações evolui bem.
A progesterona, nesse caso, não muda o desfecho. O que muda é tempo, acompanhamento médico e cuidado emocional.
Saber disso ajuda a tirar um peso dos ombros: não é porque você não usou progesterona que algo deu errado. E também não é porque você sangrou que a gestação necessariamente vai acabar em perda.



