A mulher já nasce com um número definido de folículos, e esse estoque diminui progressivamente ao longo da vida até a chegada da menopausa.
Por isso, a resposta direta — e com toda a sinceridade que você merece — é: não é possível aumentar a quantidade de óvulos.
Mas há uma boa notícia: mesmo sem poder aumentar o número, é possível cuidar da qualidade dos óvulos e adotar estratégias que ajudem a preservar a fertilidade.
O que influencia a reserva ovariana?
Alguns fatores têm impacto direto sobre a queda da reserva ovariana e a qualidade dos óvulos:
- Idade – é o principal fator. A reserva ovariana começa a cair de forma gradual já a partir dos 30 anos, mas a redução se torna mais significativa após os 35, tanto em quantidade quanto em qualidade dos óvulos. Isso explica por que as taxas de gestação natural e mesmo de tratamentos de reprodução assistida tendem a ser menores com o passar do tempo.
- Histórico familiar – casos de menopausa precoce (antes dos 40 anos) em parentes de primeiro grau, como mãe ou irmãs, podem indicar predisposição genética para queda mais acelerada da reserva.
- Doenças ginecológicas – a endometriose é uma das principais condições associadas à perda da reserva ovariana, especialmente quando forma cistos nos ovários (endometriomas) ou quando há necessidade de cirurgias repetidas. Outras doenças, como torções ovarianas ou infecções graves pélvicas, também podem comprometer o estoque de folículos.
- Tratamentos oncológicos – tanto a quimioterapia quanto a radioterapia podem ser altamente gonadotóxicas, acelerando a perda de óvulos e antecipando a falência ovariana. Por isso, nessas situações, a preservação da fertilidade (com congelamento de óvulos ou embriões) é uma recomendação importante antes do início do tratamento.
- Infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e infecções bacterianas – infecções como clamídia e gonorreia, quando não tratadas precocemente, podem causar danos diretos aos ovários, reduzindo a reserva ovariana de forma irreversível.
- Hábitos de vida – fatores externos também pesam. O tabagismo é um dos principais aceleradores da perda de reserva, reduzindo tanto a quantidade quanto a qualidade dos óvulos. O consumo excessivo de álcool, o estresse crônico, o sedentarismo e uma alimentação desequilibrada também podem contribuir para piorar a qualidade celular, afetando a fertilidade e aumentando o risco de falhas reprodutivas.
O que pode ser feito na prática?
Não existe fórmula para “aumentar” a quantidade de óvulos. O foco é preservar qualidade, acertar o timing e usar estratégias eficazes quando indicadas.
1) Aconselhamento reprodutivo e planejamento do tempo
Converse cedo sobre planos de gestação, idade e exames (AMH/AFC). A decisão de tentar agora, postergar ou preservar deve considerar sua idade e objetivos, evitando postergações desnecessárias quando possível.
2) Preservação da fertilidade (quando faz sentido)
- Congelamento de óvulos é opção válida para quem deseja adiar a maternidade; os resultados são melhores em idades mais jovens e dependem do número de óvulos obtidos. Utilize informação transparente sobre probabilidades e limites.
- Em oncofertilidade, priorize avaliação imediata para criopreservação de óvulos/embriões/tecido ovariano antes de terapias gonadotóxicas.
3) Reprodução assistida individualizada
- Em quem já está tentando engravidar, a FIV com estimulação ajustada ao perfil (AMH/AFC, idade, risco de hiper/hiporresposta) é a via com melhor controle de variáveis.
4) Saúde ginecológica e cirúrgica
- Rastreio e tratamento de ISTs (especialmente clamídia e gonorreia) reduzem DIP e, com isso, risco de infertilidade.
- Em endometriose profunda, evitar cirurgia rotineira antes da FIV apenas para “melhorar taxa” — o procedimento pode reduzir a reserva; a indicação deve ser individualizada (dor, tamanho, suspeita oncológica, acesso folicular).
5) Estilo de vida: o que ajuda de verdade
- Parar de fumar (tabagismo está associado à menopausa 1–4 anos mais precoce e piores desfechos reprodutivos).
- Álcool e cafeína: reduzir excesso; moderação é a recomendação em quem busca engravidar.
- Peso corporal, exercício e dieta: manter IMC saudável, atividade regular e alimentação equilibrada favorece a saúde reprodutiva e gestacional.
6) Suplementos e adjuvantes
- O uso rotineiro de suplementos (p.ex., mio-inositol em não-PCOS) e adjuvantes, DHEA, testosterona ou hormônio do crescimento não é recomendado para melhorar resposta ovariana ou taxas de nascimento vivo na FIV; evidência é baixa/inconclusiva e não sustenta prescrição padrão.
E quando a reserva já está baixa?
Quando os exames mostram baixa reserva, é natural sentir insegurança ou frustração.
Mas isso não significa que o sonho da maternidade acabou.
Entre as opções possíveis estão:
- Estimulação ovariana individualizada – ajustada ao perfil de cada paciente para aproveitar ao máximo os óvulos ainda disponíveis.
- Ovodoação – alternativa quando a reserva já não permite a obtenção de óvulos viáveis, oferecendo taxas de sucesso elevadas e seguras.
- Planejamento reprodutivo personalizado – decisões construídas em conjunto, respeitando sempre a história, os valores e os desejos da paciente.
⚠️ É importante destacar: procedimentos como injeção de PRP intraovariano ou protocolos de “rejuvenescimento ovariano” não demonstraram eficácia científica até o momento. As principais sociedades internacionais de reprodução não recomendam seu uso clínico, sendo indicados apenas em contextos de pesquisa controlada.
Como saber minha situação atual?
👉 Avaliar a reserva ovariana é simples e pode ser feito por meio de exames como:
- Hormônio Antimülleriano (AMH): dosado no sangue, em qualquer fase do ciclo menstrual.
- Contagem de Folículos Antrais (CFA): realizada por ultrassom transvaginal no início do ciclo.
- FSH: exame de sangue feito geralmente no 3º dia do ciclo.
Com esses resultados, é possível ter uma visão clara do seu momento reprodutivo e, junto com o médico, traçar um plano realista, individualizado e seguro.
👉 Para facilitar, disponibilizamos uma calculadora de reserva ovariana: basta inserir sua idade e o valor do AMH para obter uma estimativa inicial.
(Link para a calculadora)

Dr. João Guilherme Grassi [H2]
Sou o Dr. João Guilherme Grassi, médico especialista em reprodução humana.
Minha atuação é focada em tratamentos individualizados, sempre levando em consideração a sua história, os seus sonhos e os seus objetivos.
Acredito que informação é parte essencial do processo — por isso, dedico tempo a educar, acolher e orientar quem deseja compreender melhor sua fertilidade.
Meu maior compromisso é oferecer caminhos realistas e, ao mesmo tempo, cheios de esperança, para ajudar você a realizar o sonho de construir uma família.



