Células NK: vilãs ou aliadas na fertilidade?

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Células NK: vilãs ou aliadas na fertilidade?

Quem enfrenta a infertilidade muitas vezes se depara com uma enxurrada de exames, hipóteses e explicações que nem sempre são claras. Entre elas, um termo aparece com frequência: células NK.
Muitas pacientes chegam ao consultório assustadas, acreditando que “suas células estão atacando o embrião” e que isso pode ser a causa da dificuldade para engravidar ou das perdas gestacionais. Mas será que isso é verdade? Vamos entender.

O que são células NK?

As células natural killer (NK) fazem parte do sistema imunológico. O nome pode assustar — afinal, significa “assassinas naturais”. Mas aqui é importante diferenciar:

NK do sangue periférico (pbNK): são aquelas que circulam no corpo e têm função de defesa contra vírus e células tumorais.

NK uterinas (uNK): vivem no endométrio e na decídua (camada uterina na gravidez). Essas têm características únicas, pouco destrutivas, e sua função não é atacar, mas ajudar a preparar o útero para receber o embrião.

Elas estão presentes em mulheres férteis?

Sim. E em grande quantidade. Durante o ciclo menstrual, especialmente na fase secretora (após a ovulação), as uNK aumentam em número e permanecem em alta nos estágios iniciais da gestação.

Na verdade, elas chegam a representar até 70% dos leucócitos da decídua no primeiro trimestre.
Ou seja: ter uNK no útero é esperado, normal e necessário.

Qual a função das células NK uterinas?

As uNK não atacam o embrião. Pelo contrário, elas exercem funções essenciais para que a gravidez aconteça de forma saudável:

Remodelagem vascular: participam da transformação das artérias espirais, garantindo o fluxo sanguíneo adequado para a placenta e o bebê.

Controle da invasão do trofoblasto: equilibram até onde as células do embrião devem penetrar no útero, evitando riscos para mãe e bebê.

Produção de fatores angiogênicos e citocinas: liberam moléculas como VEGF e interferon-gama, que ajudam na nutrição, oxigenação e tolerância imunológica.

Em resumo: sem uNK, a implantação e a formação da placenta ficariam comprometidas.

Por que então são vistas como vilãs?

Por duas razões principais:

  1. O nome enganoso (“killer”). Ele remete à ideia de destruição, mas no útero sua função é de cuidado.

  2. Extrapolações científicas antigas. Estudos iniciais avaliaram apenas as NK do sangue, que são diferentes das uterinas. Assim, criou-se a hipótese de que excesso de NK poderia “atacar o embrião”. Isso levou ao uso de tratamentos imunológicos (como corticoides ou imunoglobulina endovenosa) sem comprovação real de benefício.

Hoje, sabemos que essa visão é simplista e não corresponde ao que de fato acontece.

É correto dosar células NK no sangue?

Não.
A dosagem de NK sanguíneas (pbNK) não reflete o que acontece no útero. São células diferentes, com funções distintas. Portanto, esse exame não deve ser usado na prática clínica para investigar infertilidade ou abortamento de repetição.

Mesmo a análise das uNK no endométrio, feita por biópsia, ainda não tem padronização suficiente para orientar condutas em rotina. Ou seja, o exame pode gerar mais ansiedade do que respostas.

Então devo investigar ou tratar células NK?

Na prática clínica atual, não há indicação de investigar nem de tratar as células NK uterinas de forma isolada.
O que a ciência aponta é que o equilíbrio entre os receptores maternos (KIR) e os antígenos fetais (HLA-C) pode influenciar o risco de complicações como pré-eclâmpsia ou restrição de crescimento fetal. Mas esse conhecimento ainda não se traduz em exames ou terapias aplicáveis no dia a dia da reprodução assistida.

Tratamentos empíricos para “controlar NK” não têm eficácia comprovada e podem expor a paciente a efeitos colaterais desnecessários.

O que isso significa para quem enfrenta a infertilidade?

A infertilidade já é um caminho cheio de dúvidas e frustrações. É natural buscar explicações rápidas, e as células NK muitas vezes são apresentadas como “as culpadas invisíveis”. Mas a ciência nos mostra outra realidade:

Elas não são vilãs, e sim aliadas fundamentais da gravidez.

Investigar ou tratar NK não deve ser prioridade.

O foco continua sendo uma avaliação global da fertilidade, individualizada e baseada em evidências.

As células NK uterinas são peças-chave no delicado equilíbrio da implantação e da formação da placenta. Longe de inimigas, elas ajudam a preparar o terreno para que uma nova vida floresça.
Por isso, se você está passando pelo desafio da infertilidade, lembre-se: não existe um culpado simples. A medicina reprodutiva caminha justamente para entender as múltiplas variáveis envolvidas — e caminhar ao seu lado, oferecendo clareza, segurança e acolhimento em cada passo.

📖 Referência científica:
diaz-hernandez 2021

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