A endometriose é uma das causas mais complexas de infertilidade. Muitas mulheres vivem anos de dor, incerteza e tratamentos variados até conseguirem engravidar. Uma das maiores dúvidas é: vale a pena operar primeiro ou tentar diretamente a fertilização in vitro (FIV)?
Um estudo recente, conduzido em centros de referência na Itália, trouxe dados importantes para responder essa questão. Pela primeira vez, uma pesquisa randomizada comparou os resultados da cirurgia versus a FIV em mulheres com endometriomas e lesões profundas identificadas no ultrassom.
O dilema do tratamento da infertilidade na endometriose
Até hoje, a conduta em casos de endometriose avançada variava muito entre clínicas e médicos.
Alguns defendiam a cirurgia, com a ideia de “limpar” o útero e os ovários antes de tentar engravidar.
Outros preferiam indicar diretamente a FIV, para não perder tempo e preservar a reserva ovariana.
O problema é que não havia estudos clínicos randomizados de peso que mostrassem claramente qual estratégia dava mais resultados em termos de gravidez e nascimento de bebês vivos. Esse novo trabalho começa a preencher essa lacuna.
O que o estudo avaliou
Foram incluídas 130 mulheres com endometriose e infertilidade há mais de 12 meses, todas com parceiros com sêmen normal.
Elas foram divididas em dois grupos:
Cirurgia para endometriose, seguida de tentativas naturais de gestação.
Três ciclos de FIV.
O desfecho principal analisado foi taxa de nascido vivo em 12 meses.
Importante: mulheres já operadas previamente não foram incluídas.
Principais resultados
Os números são claros:
Taxa de nascido vivo:
FIV: 46%
Cirurgia: 23% (p=0,009)
Taxa de gravidez em andamento (>20 semanas):
FIV: 60%
Cirurgia: 27% (p<0,001)
Mesmo quando analisados apenas os casos realmente randomizados (sem escolha de tratamento pelas pacientes), os resultados foram consistentes. Ou seja, a vantagem da FIV permaneceu.
O que isso significa na prática
Esse é o primeiro ensaio clínico randomizado comparando diretamente cirurgia e FIV para infertilidade associada à endometriose.
A conclusão é clara: a FIV oferece uma chance significativamente maior de alcançar o sonho do bebê em casa, em comparação com a cirurgia.
Isso não significa que a cirurgia não tenha lugar. Ela pode ser indicada em situações de dor incapacitante, risco de complicações ou dificuldade técnica para realizar a punção ovariana. Mas quando o foco principal é engravidar, a FIV deve ser discutida como a estratégia mais eficaz.
Limitações do estudo
Mais da metade das pacientes preferiu escolher seu tratamento em vez de ser randomizada. Isso pode gerar viés de seleção.
Ainda assim, as características dos grupos foram semelhantes e os resultados se mantiveram estáveis mesmo quando analisados separadamente.
O olhar da paciente
Para quem convive com a infertilidade causada pela endometriose, essa informação traz clareza em um caminho cheio de dúvidas. Muitas vezes a cirurgia parece um passo lógico, mas ela pode reduzir a reserva ovariana e, como o estudo mostrou, não aumenta as chances de ter um bebê.
É natural sentir medo de “pular etapas”, mas os dados científicos reforçam que a FIV, em muitos casos, é a rota mais segura para encurtar a jornada até a gravidez.
Conclusão
A ciência avança para trazer respostas mais objetivas. Hoje sabemos que:
FIV oferece maior taxa de nascido vivo do que a cirurgia em mulheres com endometriose avançada.
O tratamento deve ser sempre individualizado, considerando sintomas, idade, reserva ovariana e desejo da paciente.
Mais do que nunca, informação baseada em evidências é a chave para decisões conscientes.



